segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Capitulo 3 – O encontro do verde e rosa

Correram até onde se entocava Chulé. Esse que ganhou o apelido por ser sempre a coisa mais mal cheirosa e baixa que se prende a você. Um homem aparentemente frágil, porém, perigoso. Sempre com suas artimanhas preparadas. Traficante, assassino de aluguel. Sangue frio.

- Aê mermão… onde está a grana da gostosa?

- Calma aí, seu Eduardo.

- Calma é o caralho, Chulé. Paga agora ou eu vou apagar você.

- Eu não tenho grana aqui não, cara.

- Se vira.

- Aqui, Chulé, ou você me dá a grana que me deve ou eu rodo na mão dos canas. E tu vens junto como brinde.

- Calma, Alex. Eu acho que tenho algo aqui.

Ela soltou o colarinho daquele homenzinho baixo, com aparência suja e pouco cabelo. Chulé foi até uma parte da parede que escondia um cofre atrás de um pôster do Vasco da Gama. Ele começou a tirar notas daquele cofre, Dado se aproximou e foi pegando o dinheiro. Chulé, sem que Dado percebesse, pegou uma arma, mas antes de atirar em Dado, uma bala o acertou. Alex atirou na cabeça de Chulé. Eles pegaram o dinheiro e correram para o carro.

- Mete o pé aí, sua cachorra. Estamos mais do que atrasados. Você tem que pagar os caras e temos que voar para o Sambódromo. Você não quer que a nossa Mangueira entre sem a gente.

- Cala a boca. Eu tou indo o mais rápido que eu posso.

- Será que vão descobrir que fomos nós?

- Que se foda esse povo. Ninguém mais aturava aquele desgraçado. Fiz um favor à humanidade e à policia.

- Valeu, então mete o pé, maninha.

- Ta Dudu.

- Dudu no seu cu. É Dado.

- Eduardo, você sempre será para mim o meu irmãozinho mais novo. Será sempre o Dudu, mesmo quando você queira ser o macho da relação.

- Foda-se esse papo meloso, sua cadela. Vai rápido.

- Chegamos, seu puto.

- Já é. Corre lá para a bateria, vou terminar de vestir a fantasia.

***

Eles chegaram quando a escola anterior estava começando a passar pela a avenida. Eles se vestiram, se prepararam e começaram a se aquecer. Dado começou a cantar o samba enredo para que todos em sua volta entrassem no clima. A sua voz foi acompanhada por cada vez mais vozes animadas.

Os olhos de cada integrante daquela escola brilhavam. Era a Mangueira a próxima escola a desfilar e brilhar. Fazer as pessoas sorrirem e entrarem naquela fantasia chamada carnaval.

Arrepio à flor da pele. Aquela noite de carnaval não era só mais uma. Toda vez que entrava a Mangueira, uma espécie de magia contaminava a todos. Dentro e fora do Sambódromo. A alegria contagiava, as cores verde e rosa pareciam um hino ao amor.

A bateria da outra escola já saía, a Mangueira já esquentava, o puxador com o samba na boca e os passistas com o ritmo no pé se preparavam para o desfile de suas vidas. Todos os desfiles são como se fosse o primeiro e o último de tanta alegria que impulsiona aquela massa. Uma vida para o samba.

O surdo impulsiona a escola, como fosse a freqüência cardíaca de todas aquelas pessoas, de toda uma nação. E a saudade aperta no coração de muitos sem o mestre Jamelão ali com a sua voz grave encantando e surpreendendo a cada ano que passa.

A escola começou e presentear o seu público com euforia e beleza. As pessoas ficaram de pé para ver a Mangueira passar na avenida, que merecia um tapete para tanta maravilha. Um fantástico mundo feito de seres humanos e sonhos.

A batida forte de Alex e o seu sorriso contaminava os seus amigos de bateria, que não cansavam. Dado em passos frenéticos, cantando, sempre malandro… o suor no rosto, o sorriso, a letra cantada até a voz sumir. Os dois apaixonados por aquele mundo. Os dois irmãos sem querer. Irmãos porque o destino quis. Os dois que podiam ser humilhados pelas as suas escolhas, mas eram fortes. Se um caia o outro ajudava a levantar. Um amor sem explicação. Só se sabe que existe. Como existia um grande amor dos dois por aquela nação que os abrigou. A nação Mangueirense.

***



Fim do desfile.

Ele a esperou. Ela sempre era última junto com a bateria. Tempo depois ela chegou ali e ele a abraçou aos gritos.

- Vamos ganhar essa porra esse ano! Estava tudo lindo. A bateria perfeita. Todos nós cantamos. Estou até arrepiado. Foda! Foda! Foda!

- Vamos sim, Dado. Este é o nosso ano. Eu sinto isso também.

- Quarta feira vai ser foda. Vou gritar muito. Nem vou trabalhar.

- Você é um vagabundo mesmo.

- Aê Alex, aquela gostosa ta te secando.

- Ah é? Hum… o meu número. Maninho, a gente se vê em casa. Não me espera.

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